Em 7 de outubro o presidente colombiano Juan Manuel Santos recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo progresso que alcançou em colocar um fim à guerra civil de 52 anos em seu país. Naquele dia, o site oficial de Santos publicou um artigo em que analisava sua longa jornada em busca por uma saída para o trágico conflito. No artigo, Santos se refere a uma reunião que ele organizou há 20 anos com Adam Kahane, diretor da Reos Partners em Montreal, como “um dos eventos mais importantes na busca pela paz no país”.
A reunião aconteceu na Abadia de Montserrat, em Bogotá, em março de 1996. Cinco anos antes, Kahane havia liderado o projeto cenário Mont Fleur na África do Sul, um processo que contribuiu para a transição da África do Sul do apartheid à democracia. O presidente sul-africano Nelson Mandela contou a Santos sobre a liderança de Kahane no exercício de Mont Fleur. Inspirado por esse exemplo, Santos convocou a reunião em Bogotá para discutir a possibilidade de organizar um processo semelhante na Colômbia.
A reunião incluiu importantes líderes políticos, empresários, militares, religiosos e acadêmicos, além de comandantes de guerrilhas que participaram via rádio de um esconderijo nas colinas nos arredores da cidade. Os participantes estavam tanto entusiasmados quanto nervosos por fazerem parte de um grupo tão heterogêneo. Ao avistar o líder de uma milícia no outro lado da sala, um vereador do Partido Comunista da cidade perguntou a Santos, “Você realmente espera que sente ao lado deste homem, que tentou me matar cinco vezes?” Santos respondeu, “É justamente para que ele não tente uma sexta vez que eu o convido a sentar-se com ele.”
Essa reunião levou à organização de um projeto cenário chamado Destino Colômbia, que Kahane facilitou. A equipe do projeto era composta por líderes nacionais de uma diversidade extraordinária de setores, incluindo políticos, empresários, jornalistas, membros de guerrilhas, membros de grupos paramilitares, acadêmicos, ativistas, camponeses, oficiais militares, sindicalistas e jovens. Eles se encontraram três vezes em 1997, por um total de 10 dias, em um pequeno hotel nos arredores de Medelín. Esses workshops foram a única vez na história em que líderes de todos esses setores da sociedade colombiana tiveram uma conversa profunda e honesta sobre o que estava acontecendo e o que poderia acontecer no país.
A equipe do Destino Colômbia desenvolveu quatro cenários de possíveis futuros para o país. O primeiro, “Quando o Sol Nascer, Veremos”, era um alerta ao caos que poderia acontecer se os colombianos apenas deixassem as coisas como estavam e fracassassem em lidar com os difíceis desafios do país. O segundo, “Mais Vale um Pássaro na Mão do que Dois Voando”, descreveu um acordo negociado entre o governo e as guerrilhas. O terceiro “Marcha em Frente!” colocou o governo – apoiado por uma população frustrada com a violência contínua e operando a partir do princípio de que “um problema difícil exige uma solução difícil” – implementando uma política para destruir as guerrilhas militarmente e pacificar o país. E o quarto, “Na Unidade Existe Força”, era a história de uma transformação do país de baixo para cima, buscando maior respeito mútuo e cooperação.
Nem todos membros da equipe concordaram sobre qual cenário era o ideal – ou sobre qual maneira de lidar com o conflito era a melhor. Por isso, a partir de 1998, eles apresentaram essas narrativas como possibilidades alternativas em artigos de jornais, reportagens na TV e em pequenas e grandes reuniões ao redor do país. Nos anos que se seguiram, os cenários do Destino Colômbia se tornaram conhecidos pontos de referência em conversas entre os colombianos sobre as escolhas que eles teriam de fazer.
Em 2010, Santos foi eleito presidente. Ele explicou o programa de seu novo governo como uma realização do quarto cenário, “Na Unidade Existe Força”. Em 2012 ele disse, “É realmente impressionante ler os cenários da Destino Colômbia agora, pois eles parecem mais proféticos do que acadêmicos. É bom saber que o melhor cenário que imaginamos há 16 anos está começando a se realizar agora.”
Santos coloca o Destino Colômbia – tanto as histórias que o grupo contou sobre os possíveis futuros da Colômbia quanto a metodologia usada para trabalhar com as profundas divisões no país – no centro de sua narrativa sobre o que aconteceu na Colômbia e também de sua própria vida política. Esse projeto está agora culminando na quase completa negociação de paz com as forças da guerrilha. A Reos Partners parabeniza o presidente Santos por seu prêmio merecido e sente-se honrada por tê-lo acompanhado em uma pequena parte dessa jornada.