Tenemos que Hablar de Chile e Reos Partners convidam os chilenos a repensar o futuro de seu país.
Em 2019, o Chile vivenciou o período mais significativo de inquietação política e social de sua história recente. Um aumento na tarifa do metrô foi o ponto de inflexão, levando a um debate público significativo em todo o país, bem como manifestações, violência e revolta geral. Em resposta, duas universidades proeminentes, a Universidade do Chile e a Universidade Católica, se uniram para lançar a Tenemos que Hablar de Chile, uma plataforma colaborativa de advocacy cidadã que está impulsionando um grande diálogo sobre o futuro da sociedade chilena. Até o momento, mais de 15.000 pessoas do país participaram.
Desde abril de 2020, Tenemos que Hablar de Chile tem organizado uma série de oportunidades únicas para os chilenos participarem da conversa. Sua metodologia busca estabelecer um espaço para trocar ideias e sistematizar o que os chilenos querem para o futuro do país. A Tenemos que Hablar de Chile contratou a Reos Partners para lançar Chile até 2030: Cenários Futuros. Usando a metodologia de Planejamento de Cenários Transformadores (PCT), idealizada pelo diretor da Reos Partners, Adam Kahane, Reos e Tenemos que Hablar de Chile facilitaram a imaginação de possíveis futuros para o país a partir de conversas com uma gama diversa de pessoas. Os quatro cenários foram apresentados publicamente à nação em 31 de março de 2022.
Aqui, o líder do projeto na Reos Partners, Gerardo Marquez, e a Vice-Diretora da Tenemos que Hablar de Chile, Valentina Rosas, compartilham detalhes sobre o projeto e a metodologia inovadoras e a esperança deles de seu impacto no país e em seu povo.
Tenemos que Hablar de Chile usa uma variedade de metodologias para convidar chilenos em todo o país para o diálogo. O projeto Chile até 2030: Cenários Futuros é um pouco diferente. Você pode explicar por que foi iniciado e como a Reos Partners se envolveu?
VR: O Chile vive um momento histórico político importante – estamos em processo constitucional e temos um dos governos mais progressistas desde o fim da ditadura. Em políticas públicas e questões sociais, as coisas estão mudando muito. Estávamos prestando muita atenção ao que estava acontecendo no momento presente e percebemos que deveríamos estar olhando para frente.
Quando olhamos para o futuro, percebemos que não há apenas uma resposta – é preciso conversar sobre as opções para o futuro do Chile.”
Quando olhamos para o futuro, percebemos que não há apenas uma resposta – é necessário conversar sobre as opções para o futuro do Chile. Precisávamos de ferramentas para ter essa conversa de maneira organizada e útil. Quando soubemos do trabalho da Reos Partners na Colômbia usando a metodologia de Planejamento de Cenários Transformadores, percebemos imediatamente que precisávamos fazer algo semelhante. Trabalhar com Reos foi um casamento perfeito.
Como funciona a metodologia de Planejamento de Cenários Transformadores e por que foi ideal para esta iniciativa?
GM: Implementando a metodologia de Planejamento de Cenários Transformadores, providenciamos um processo para que as pessoas construíssem um entendimento compartilhado de sua realidade atual. Coordenamos um grupo diverso de pessoas para o projeto. Juntos, elas analisaram diferentes fatores para identificar o que provavelmente permanecerá no futuro e quais são as incertezas mais significativas. Em seguida, criamos narrativas e quatro possíveis resultados com base nessas informações.
Esse conjunto de possíveis futuros oferece novas perspectivas e nos permite fazer algo juntos para impactar o debate político.”
VR: Nosso principal objetivo era ter mais do que apenas uma conversa. Os cenários nos disponibilizam um produto que pode ser útil para o povo do país, as autoridades e os líderes sociais e políticos. Esse conjunto de possíveis futuros oferece novas perspectivas e nos permite fazer algo juntos para impactar o debate político.
Como foi a experiência de trabalhar juntos nesta iniciativa inovadora?
VR: A parceria com a Reos foi um desafio no início porque foi a primeira vez que usamos a metodologia de um parceiro, não a nossa. Mas, no final, a experiência abriu nossas mentes como organização para abraçar outras perspectivas e novas formas de realizar nosso trabalho. A equipe da Reos Partners é muito organizada e é fácil trabalhar com eles. O mais importante é que compartilhamos os mesmos objetivos.
A missão da Tenemos que Hablar de Chile está alinhada com a de Reos – juntos, oferecemos aos chilenos a oportunidade de visualizar o futuro que desejam para seu país.”
GM: Trabalhar neste projeto foi uma experiência de aprendizado fenomenal. A missão de Tenemos que Hablar de Chile está alinhada com a de Reos – juntos, oferecemos aos chilenos a oportunidade de visualizar o futuro que desejam para seu país.
Um grupo diverso de atores foi convocado para este projeto. Você pode descrever esse processo? Como os atores foram selecionados e por que a diversidade era importante?
GM: Trabalhamos juntos para fazer um mapeamento e seleção vasto de atores, considerando quem tem pontos de vista distintos, que refletem a diversidade do país. Eles eram diversos em vários aspectos e ocupavam vários papéis na sociedade chilena, incluindo acadêmicos, lideranças empresariais, jornalistas, ativistas, atletas, ONGs, jovens e muitos mais.
VR: Estávamos pensando em perfis, o tipo de líderes que queríamos incluir – desde ativistas ambientais até CEOs de grandes empresas e startups. O Chile é um país muito centralizado, então queríamos trazer pessoas de diferentes regiões do país também. Os participantes nunca haviam se conhecido antes, mas logo perceberam coisas que tinham em comum. Eles ficaram gratos por fazer parte da conversa.
O que você aprendeu vendo os cenários que o grupo produziu? O que te surpreendeu neles? Como o povo do Chile reagiu?
VR: Os cenários propõem muitos desafios. Três dos cenários ilustram caminhos que não quero para o país. Ao mesmo tempo, acredito que são muito possíveis. Se não agirmos, coisas que não queremos que aconteçam acontecerão. Foi muito revelador perceber isso. A reação da maioria das pessoas tem sido: “o que posso fazer para influenciar isso?”
Quais são os próximos passos?
VR: Acabamos de compartilhar os cenários publicamente, então eles só agora estão sendo conhecidos pelo público. As pessoas precisam de tempo para ler, processar e considerar o que podem fazer em relação ao que apresentamos. Nosso objetivo sempre foi iniciar conversas diferentes e isso está acontecendo. A conversa que iniciamos continua e se aprofunda. Estamos tentando nos organizar com os partidos políticos. Até agora, o retorno que recebemos tem sido positivo. Eles acham os cenários interessantes e que podem ser úteis. Estamos animados para muitas outras conversas com eles.
Qual é a sua esperança para o futuro do Chile? Como este projeto pode ajudar a alcançar isso?
VR: Espero promover um país mais colaborativo. A colaboração tem seus desafios, mas acredito que vale a pena. Podemos fazer mais se trabalharmos juntos. É importante reconhecer as diferentes realidades que temos, os diferentes pontos de vista. No Chile, costumamos dizer que devemos deixar nossas diferenças de lado. Eu não quero fazer isso. Quero colocar nossas diferenças no centro e trabalhar com elas. Minha esperança é que este projeto possa nos ajudar a reconhecer e apreciar a rica diversidade do país.
Quero colocar nossas diferenças no centro e trabalhar com elas. Minha esperança é que este projeto possa nos ajudar a reconhecer e apreciar a rica diversidade do país.”
Valentina Rosas é a Vice-Diretora da Tenemos que Hablar de Chile. Ela supervisiona a implementação do projeto em nível nacional, apoiando a missão da organização de convidar diálogos sobre o futuro do Chile.
Gerardo Marquez é Consultor da Reos Partners e líder do projeto Chile até 2030: Cenários Futuros. Seu conhecimento técnico e olhar sobre mudanças sistêmicas lhe permitiram trabalhar com êxito e a nível global com os temas energia, meio ambiente e inovação. Ele é apaixonado por desenvolver capacidades em pessoas para endereçar as complexas questões sociais e ambientais que enfrentamos coletivamente.
Foto da capa: Felipe Brayner/ Unsplash