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Colaborando para uma educação equitativa no Brasil

Reos Partners
Novembro, 2021

Colaborando para uma educação equitativa no Brasil
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Saiba mais sobre nosso trabalho com a Fundação Lemann em prol da educação equitativa no Brasil.


Apesar de ser um dos países mais ricos do mundo, o Brasil também é um dos menos justos. Uma das desigualdades mais significativas e alarmantes existe em seu sistema educacional. Estima-se que 48% das crianças no Brasil hoje vivenciam a “defasagem de aprendizado” - aos 10 anos, elas são incapazes de ler um texto simples. No ritmo atual de melhoria, o Brasil levará 260 anos para melhorar seu índice de alfabetização, segundo a Fundação Lemann, que tem como missão tornar o Brasil um lugar mais justo e avançado, garantindo o acesso a uma educação pública de qualidade para todos.

No final de 2019, a Fundação Lemann procurou a Reos Partners para ajudar a explorar esta questão com base num trabalho anterior da Reos sobre a Educação Básica no Brasil. Com o apoio da Reos Partners, a Fundação Lemann reuniu um grupo de atores diversos com experiência em educação e tecnologia. O objetivo do grupo era pensar junto e construir um conjunto de cenários sobre o futuro de curto prazo da educação e das tecnologias no Brasil em um mundo pós-Covid.

Aqui, Christel Scholten, da Reos Partners, e Lucas Machado Rocha, da Fundação Lemann, discutem o projeto, o impacto que a Covid teve na educação e tecnologia no Brasil e como os cenários de futuros possíveis estão sendo usados hoje.

  • Christel Scholten é Diretora Executiva da Reos Partners Brasil, onde desenha, facilita e apoia processos de transformação social com organizações e grupos de multissetoriais. Ela traz uma perspectiva e entendimento sistêmico para seu trabalho, apoiando grupos para identificar e colaborar nos principais pontos de alavancagem para a transformação.
  • Lucas Machado Rocha lidera inovação na Fundação Lemann. Sua equipe é responsável pela pesquisa e experimentação de novas tecnologias e metodologias que podem contribuir para uma experiência educacional mais prática, ativa e colaborativa. Lucas tem aconselhado os governos Federal e local sobre políticas de inovação e tecnologia e fundou um movimento no Brasil para promover “programação para a aprendizagem”.

Em que consiste o Processo de Cenários Futuros para a Educação e Tecnologias no Brasil Pós-Pandemia?

CS: Depois de conduzir uma série de entrevistas em profundidade com 30 participantes, a equipe conjunta de Reos-Lemann facilitou oito oficinas virtuais de quatro horas cada. Durante dois meses, realizamos seis oficinas com esses 30 participantes, que representaram diferentes perspectivas e funções no ecossistema de educação e tecnologia, incluindo alunos, educadores, administradores, especialistas em tecnologia, empreendedores e startups, fundações que apoiam a educação e centros de pesquisa e inovação em educação , entre outros.

Em seguida, fizemos uma pausa de dois meses para escrever os cenários que havíamos construído coletivamente. Dois meses depois, nos reunimos novamente para duas oficinas finais, para discutir as implicações desses cenários e criar recomendações para o sistema educacional e os atores envolvidos.

Que perspectiva os estudantes trouxeram para o processo?

LMR: Primeiro, eles trouxeram um senso de realidade. Eles enfrentaram problemas de conectividade para até mesmo participar das reuniões online. Um dos alunos teve que pedir emprestado um telefone celular a um vizinho. Ao ver como eles estavam se esforçando para participar das oficinas, você pode imaginar como eles estavam se esforçando para participar de suas aulas online.

Em segundo lugar, suas contribuições foram tão genuínas. Foi muito emocionante ouvir a perspectiva que trouxeram para as discussões sobre como se sentiam por não serem ouvidos por suas escolas nas soluções que estavam propondo. Os alunos querem fazer parte disso. Eles têm suas próprias ideias. Isso foi realmente poderoso de se ouvir.

Como a Covid afetou a educação pública no Brasil, quando tantos alunos eram obrigados a frequentar a escola virtualmente?

CS: O sistema no Brasil não estava preparado para usar tecnologia para aprendizagem online. Isso fez com que o projeto se tornasse muito relevante. A pandemia exacerbou as desigualdades em geral, mas especialmente na educação. Enquanto a parte da população que tinha acesso a computadores, laptops e iPads conseguiu se adaptar, a outra parte teve dificuldade para compartilhar o único telefone que tinha entre os vários membros da família para trabalhar e estudar. Em geral, as escolas particulares tiveram melhores condições para se adaptarem a essa nova realidade do que as escolas públicas.

O impacto da Covid também influenciou as recomendações da equipe para educação e tecnologia no Brasil. Uma recomendação, por exemplo, envolveu a garantia de investimento em acesso à tecnologia e conectividade para todos os estados do país para que todos tivessem acesso igualitário à educação online.

Por causa da Covid, adaptamos o processo tradicionalmente presencial para um formato online e ajustamos o horizonte de tempo dos cenários para focar no pós-Covid, ao invés de décadas no futuro. Nós nos referimos a isso como um processo de Cenários Transformadores de Resposta Rápida, algo novo para Reos. Como co-facilitadores, os representantes da Fundação Lemann trouxeram muitas inovações úteis para a nossa metodologia. Foi uma parceria muito forte.

Você pode compartilhar o conjunto de cenários que a equipe criou no processo de Cenários Transformadores de Resposta Rápida?

LMR: Chegamos a quatro cenários sobre como o sistema educacional no Brasil poderia ser em 2023. O primeiro e mais desejável, chamado Conexões, é sobre como podemos sair desta pandemia mais fortes e com desigualdades reduzidas, principalmente por meio de uma maior democratização de acesso à internet e dispositivos digitais e aumento de parcerias multissetoriais.

O segundo cenário, Mosaico, é aquele em que a pandemia afeta o país de forma desigual. Falta liderança federal e surgem iniciativas estaduais e municipais, criando um mosaico de experiências e políticas públicas. Esse cenário se parece mais com o que o Brasil se encontra agora. A taxa de vacinação da Covid nos estados é um bom exemplo - existem algumas áreas do país onde 60% da população foi vacinada, enquanto outros estados têm percentuais bem menores.

O terceiro cenário, Transações, é aquele em que o setor privado assume uma posição de vanguarda. Os investimentos privados em conectividade de internet são viabilizados e, embora a tecnologia esteja mais presente nas escolas, muitas vezes não vem acompanhada de inovações pedagógicas. 

No quarto cenário, Controle, o governo federal assume a liderança total, enquanto as secretarias e redes estaduais e municipais se dividem e se fragilizam. Nesse cenário, a pandemia agrava os problemas econômicos e de saúde, levando a ainda maiores desigualdades socioeconômicas e educacionais.

Com base nos cenários, a Equipe de Cenários propôs um conjunto de recomendações de alto nível que foram guiadas pela visão de promover experiências de aprendizagem que recuperem os danos da pandemia, reduzam as desigualdades educacionais e tecnológicas e construam uma educação mais ativa e significativa para estudantes e professores.

Como essas recomendações foram usadas até agora?

LMR: Atualmente, a Fundação Lemann está entrando em um novo ciclo de 10 anos de nosso processo de aprendizagem de longo prazo. O projeto de cenários é um dos recursos que estamos usando para basear nossas discussões. Outras organizações que estiveram envolvidas no Processo de Cenários Futuros para a Educação e Tecnologias Pós Pandemia também os estão utilizando em seus planejamentos.

Isso auxilia o mindset para o processo de planejamento quando se está planejando para cenários específicos. O que pode ser muito poderoso porque em vez de planejar para um único caminho, você está planejando para várias possibilidades. Em segundo lugar, se você observar os cenários e recomendações, verá que houve um forte impulso para a conectividade. Por causa disso, dobramos nossos investimentos em conectividade.

Também estamos explorando a ideia de interoperabilidade (se dois componentes de um sistema, desenvolvidos com ferramentas diferentes, de fornecedores diferentes, podem ou não atuar em conjunto). Como podemos garantir que os dados gerados por softwares e aplicativos estão sendo compartilhados entre plataformas e usados por professores para planejar suas salas de aula e suas atividades? Essa noção de interoperabilidade foi explorada no cenário Conexões. Em resposta a isso, abrimos uma nova linha de trabalho em interoperabilidade.

Temos esperança de que este conjunto de cenários e recomendações contribua significativamente para a educação e tecnologia no Brasil, e que contribua para a construção de um futuro melhor e mais justo para o povo brasileiro.

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