Conheça o Coletivo Sartasiñani, um negócio social apoiado por organizações integrantes do Colabora Moda Sustentável, e descubra como este exemplo prático e poderoso de Colaboração Estendida pode ser replicado para além do setor da moda.
Um grupo de mulheres imigrantes bolivianas chegaram em diferentes épocas à cidade de São Paulo, mais precisamente no bairro da Casa Verde Alta, onde passaram a trabalhar como costureiras. Além do país de origem, compartilhavam outras conexões: a falta de familiaridade com o idioma, a informalidade no trabalho – o que lhes impedia o acesso às leis trabalhistas –, a necessidade de cumprirem longas jornadas e a baixa remuneração, que mal lhes permitia arcar com as contas mensais.
Com o apoio de entidades que integram o Colabora Moda Sustentável, Anahi Virginia Chuquimia Soto, Maria Isabel Gutierrez Tarqui e Rebeca Huchani criaram em 2017 o Coletivo Sartasiñani, transformando-se de trabalhadoras informais em gestoras de seu próprio negócio.
Sartasiñani significa “levantemo-nos!” no idioma Aymara – etnia andina à qual elas pertencem – e esse é o propósito do coletivo: um levante por uma moda mais digna, ética e sustentável. O principal objetivo da iniciativa é superar conjuntamente as condições precárias de trabalho e de renda, criando uma confecção dentro do conceito de negócio de impacto social.
Esse propósito motivou diversas entidades que integram o Colabora Moda Sustentável a apoiar o coletivo com administração, recursos financeiros e capacitação, para uma produção de alta qualidade. O Instituto Ecoar para a Cidadania foi a entidade âncora que viabilizou repasses financeiros, cuidou da administração e introduziu no projeto a dimensão da economia circular. O Instituto C&A disponibilizou recursos para a capacitação das costureiras. A seção brasileira da Alampyme – Associação Latino-americana de Micro, Pequena e Média Empresa – incorporou-se ativamente e seu presidente, Sergio Miletto, passou a integrar a coordenação do projeto, ao lado de Nancy Guarachi.
A Trajetória do Coletivo Sartasiñani
Há 5 anos, o Sartasiñani tem mostrado que é possível construir melhores condições de renda e de trabalho por meio de uma ação conjunta e planejada, em que o lucro faz parte do processo, e as condições de trabalho e de partilha de ganhos obedecem a critérios de sustentabilidade, justiça social, direitos humanos e cuidados ambientais.
Durante sua trajetória, a iniciativa tornou-se fornecedora credenciada pela Prefeitura de São Paulo, dedicando-se à confecção de uniformes escolares, aventais e máscaras durante o período mais restritivo da pandemia. Em outubro de 2022, o Coletivo realizou um grande sonho: o lançamento de sua primeira coleção de roupas autorais, inspiradas na cultura ancestral andina, tanto na modelagem quanto nas cores e estampas. O evento de lançamento da coleção pode ser revisto na íntegra aqui.
A coleção LATINOSSOMOS aposta na diversidade, nas cores e formas vibrantes e versáteis, na expressão dos sentidos. São roupas confortáveis, com referências latinas, e responsáveis com o meio ambiente. A escola de moda intercultural Ewa Poranga apoiou o Coletivo no desenvolvimento das estampas e da modelagem. Conheça as peças da coleção.
Nancy Guarachi, co-liderança e ativa integrante do grupo, diz: "nossas roupas têm história". Essas roupas também tornam palpável a visão de uma moda regenerativa, que constrói relações de apoio e de fortalecimento.
Satasiñani, para mim, tem um significado de força, recomeço; subimos a cada dia em nossas vidas. Neste coletivo, muitos de nós passamos pelas mesmas realidades quando chegamos a este país. Hoje o sonho é dignificar e dar reconhecimento ao nosso trabalho e cultura."
Nancy Guarachi, Co-líder do Tramando Junt@s.
O Coletivo Sartasiñani é um exemplo prático e poderoso de Colaboração Estendida - uma abordagem radical de colaboração, que vê as diferenças não como uma desvantagem, mas como uma vantagem. A iniciativa apresenta potencial para influenciar toda a indústria da moda e, mesmo tendo sido criada nesse setor, pode ser replicada em outros setores com elos vulneráveis em sua cadeia produtiva.