Como podemos trabalhar com nossas diferenças para construir e sustentar a paz e a democracia?

Há 30 anos, a Reos Partners tem desenvolvido abordagens inovadoras para a paz, democracia e boa governança, inclusive em locais com profundos conflitos. Não trabalhamos como negociadores ou mediadores convencionais de paz, mas como guias. Nossa equipe multicultural tem experiência em trabalhar com polaridades e tensões, e em ajudar as pessoas a encontrarem um caminho pacífico em conjunto – não necessariamente resolvendo suas diferenças, mas apesar delas. E vimos repetidamente que, mesmo em conflitos complexos e arraigados, é possível um progresso real em direção à reconciliação e à renovação.
Aqui está o que acreditamos ser uma boa maneira de transformar situações de conflito e encontrar o caminho em direção a um futuro melhor para todos:
Uma de nossas ferramentas mais poderosas para a transformação é o processo de cenários transformadores. É um exemplo do que chamamos de “desvio intencional”. Um processo estruturado, mas aberto, que combina rigor e imaginação, convoca atores diversos a fazer nada mais nada menos do que construir múltiplas narrativas de possíveis futuros para sua situação. Estas, por sua vez, sugerem estratégias e iniciativas para criar um futuro melhor.
Menos concretamente, mas tão ou mais importante, os cenários podem ajudar as pessoas a começar a contar uma história nova e mais esperançosa sobre si mesmas – e talvez começar a vivê-la. Uma vez que as pessoas mudam seu pensamento sobre o que é possível, elas começam a mudar suas ações. Os efeitos cascata nem sempre podem ser medidos, mas também não devem ser subestimados.
Considere os cenários do Destino Colômbia, que facilitamos em 1996. Após décadas de guerra, muitos colombianos achavam que seu futuro era sem esperança. Mas através do processo de cenários, eles desenvolveram um novo olhar para sua situação. Que caminhos o país pode tomar? Onde cada um pode levar? As histórias desenvolvidas ajudaram a renovar sua noção de possibilidade e responsabilidade.
Mais de vinte anos depois, os cenários continuam na narrativa pública enquanto o país continua sua jornada devagar, mas esperançosa, em direção à paz. Em outubro de 2016, o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo progresso que fez. Ele se referiu ao seu encontro inicial com Adam Kahane, diretor da Reos Partners, duas décadas antes, como “um dos eventos mais significativos na busca da paz do país”.
Nem sempre é fácil colaborar, mesmo com pessoas com as quais concordamos. Questões de paz, democracia e governança muitas vezes exigem ainda mais de nós: a colaborar com pessoas das quais discordamos, não gostamos ou desconfiamos. As partes podem nunca concordar, mas se quiserem mudar o status quo, precisam encontrar maneiras de avançar juntas de qualquer forma.
Chamamos isso de “colaboração estendida”. Como Adam Kahane descreve em seu livro Trabalhando com o Inimigo, aprendemos como ajudar atores diversos e concorrentes a avançarem sem nenhuma expectativa de harmonia ou mesmo qualquer acordo definitivo sobre o problema, muito menos a solução. É a marca do nosso trabalho. O processo de cenários transformadores, como um ato de imaginação aberto, pode possibilitar a colaboração mesmo em casos de extrema tensão e ameaça, como na Colômbia.
Um objetivo primordial do Destino Colômbia era permitir que os oponentes se comunicassem diretamente, e eles o fizeram: notavelmente, ambos os grupos de guerrilheiros ativos de esquerda participaram, por telefone, junto com paramilitares de direita, políticos, empresários e outros atores.
“É muito difícil trazer para o mesmo processo os extremos que estão destruindo o país e que de antemão deixaram claro que não teriam relações uns com os outros”, disse um membro da equipe. “Conseguimos nesse processo de diálogo, de respeitar as regras do jogo, e de melhorar o tratamento uns com os outros, a forma de conversar e a qualidade do nosso pensamento de longo prazo.”
O conflito sempre estará conosco, especialmente em um mundo cada vez mais complexo e superlotado. Então, nós e nossos parceiros estamos aprendendo a gerenciá-lo melhor – e até mesmo aproveitá-lo como uma força criativa. A África do Sul se destaca por seus esforços de seguir um caminho generativo diante das tensões contínuas.
Os Cenários de Mont Fleur, de 1991, foram construídos por uma equipe multissetorial de sul-africanos influentes com menos de dois anos de transição pós-apartheid. Foi uma época de incrível entusiasmo, confusão e instabilidade. Uma das quatro histórias era uma visão compartilhada do melhor futuro que a África do Sul poderia criar se evitasse os erros ilustrados pelas outras três. Embora essa visão tenha enfrentado críticas, e ainda não tenha se materializado totalmente, marcou um começo esperançoso para um novo caminho.
Em 2008, o país parecia em risco de desmoronar. O partido do governo foi atormentado por batalhas entre facções, a economia estava enfraquecida e os serviços públicos básicos estavam em crise. A transformação nacional poderia voltar aos trilhos? Os sul-africanos optaram por continuar colaborando e a Reos Partners facilitou um segundo processo de cenários nacionais.
Esse processo, chamado Cenários Dinokeng, cristalizou um debate crítico sobre o papel que o Estado deveria desempenhar no desenvolvimento nacional e os cenários desenvolvidos passaram a fazer parte do discurso nacional. A equipe de cenários não concordou com o caminho a seguir, mas concordou que os cidadãos e líderes do país precisavam se engajar novamente na formação do futuro da África do Sul. Disse Vincent Maphai, um intelectual e empresário que ajudou a convocar participantes para os processos de cenários transformadores Mont Fleur e Dinokeng: “A maior contribuição que fizemos com Dinokeng foi mudar a mentalidade e forçar as pessoas a assumir responsabilidade”. De fato, Dinokeng inspirou novos movimentos cidadãos.
Mais recentemente, na África do Sul, a questão específica da reforma agrária pós-apartheid tem vindo à tona. Em 2017, facilitamos mais um processo de cenários transformadores: os Futuros da Reforma Agrária. Esses cenários estão oferecendo uma estrutura comum para um debate nacional renovado e informado e para a tomada de decisões sobre essa questão politicamente potente e conflituosa.
Ao aprender a gerenciar conflitos, as pessoas podem impedir que seu sistema – seja uma organização ou um país inteiro – chegue a um ponto de ruptura. A América Latina oferece um exemplo de oportunidade impressionante para as pessoas aprenderem umas com as outras, moldarem seu futuro e evitarem conflitos degenerativos.
Composta por 20 países e mais de 600 milhões de pessoas, a região é diversa e complexa. Mas uma semelhança importante é que suas democracias ainda estão em construção. Muitas vezes são frágeis. Vemos crises de representação, sistemas políticos vulneráveis, corrupção, desigualdade persistente, altos níveis de violência, criminalidade e fundamentalismo.
O que pode acontecer à democracia na região? O que os latino-americanos querem disso? O que cada país pode aprender com os sucessos e fracassos dos outros? Para ajudar a facilitar um diálogo regional, voltamos novamente à metodologia de cenários transformadores. Os cenários do Alerta Democrática oferecem uma linguagem comum e um ponto focal para reflexão, discussão e ação.
“Precisamos de maior capacidade para falar sobre questões maiores que não podem ser resolvidas dentro dos limites dos estados-nação”, disse Rossana Fuentes-Berain, membro da equipe de cenários, fundadora do México Media Lab S21 e da revista Foreign Affairs em Espanhol. “Mesmo que você tenha o melhor governo do mundo (o que em geral não temos na América Latina), você não pode chegar a boas soluções sem o tipo de diálogo que tivemos naquela sala.”
É um princípio simples: somente com uma abordagem multissetorial podemos esperar ver o quadro completo de um sistema complexo. Essa abordagem é ainda mais proeminente considerando as tendências globais em direção ao pluralismo e aos direitos individuais baseados na identidade – e ao fato de que a exclusão aumenta a probabilidade de revoltas violentas.
Mont Fleur e Dinokeng reuniram políticos, empresários, sindicalistas, acadêmicos, ativistas comunitários, negros e brancos, esquerda e direita, oposição e situação. A equipe do Destino Colômbia era formada por guerrilheiros, paramilitares, acadêmicos, ativistas, empresários, jornalistas, militares, camponeses, políticos, sindicalistas, jovens e mídia. O time do Alerta Democrática representava 13 países entre acadêmicos, formuladores de políticas públicas, servidores públicos, jovens, indígenas, ativistas, empresários e pessoas da mídia, instituições religiosas e fundações.
Fuentes-Berain, falando sobre democracia, disse que desta forma os cenários transformadores “são muito mais honestos(…)do que algumas outras formas de abordá-la, onde os políticos se apropriam da discussão. Os políticos não estão olhando nos olhos do povo”.
Além de possibilitar novos relacionamentos e novas histórias, um processo multissetorial como cenários transformadores pode estabelecer uma plataforma para um trabalho contínuo. Nosso trabalho na Tailândia oferece outro exemplo disso.
Embarcamos no Cenários Tailândia em 2010, logo após dois anos de conflito político sangrento. O projeto reuniu 35 líderes políticos, funcionários públicos, lideranças empresariais, sindicais e de ONGs para refletir sobre o que poderia acontecer em seu país nos próximos 25 anos. Como a Tailândia administraria suas tensões sociais e culturais complexas e inter-relacionadas, pressões econômicas e ambientais e restrições políticas e institucionais?
A equipe concluiu que as soluções de cima para baixo iriam falhar e, posteriormente, lançou um movimento nacional para construir a capacidade dos tailandeses colaborarem. No entanto, as facções do país passaram a fazer tudo menos isso. Os conflitos ressurgiram em 2014, no parlamento, nos tribunais e nas ruas.
No entanto, com base nos entendimentos e relacionamentos construídos durante o projeto de 2010, nós e nossos parceiros na Tailândia continuamos a progredir lá com uma série de iniciativas de mudança sistêmica relacionadas à agricultura, educação e corrupção. Nós persistimos – assim como todo um novo conjunto de efeitos cascata.
Pensando e trabalhando de novas maneiras, colaborando apesar do desconforto ou medo, encontrando inspiração para persistir. Pessoas em todos os níveis de um sistema podem achar tudo isso difícil, confuso e até mesmo angustiante às vezes. Mas, como guias experientes, desenhamos nossos processos para dar a todos o apoio e o tempo que precisam para sentir o caminho adiante. E do outro lado, como vimos repetidas vezes, está uma resposta mais bem-sucedida aos desafios complexos que enfrentamos.
Exemplos de nosso trabalho em Paz e Democracia
Cenários transformadores não são sobre prever o futuro, mas sobre criá-lo. Enquanto a maioria das metodologias de planejamento de cenários se concentra na adaptação, a metodologia de cenários transformadores busca não apenas entender ou se adaptar ao futuro, mas também moldá-lo.
Esse processo estruturado, porém criativo, ajuda atores diversos a ver os diferentes futuros possíveis e descobrir o que podem e devem fazer, permitindo-lhes construir entendimentos compartilhados, relacionamentos mais fortes e intenções mais claras, criando assim o potencial de ação que moldará um futuro melhor.
Abaixo estão alguns exemplos de processos de cenários transformadores que a Reos Partners esteve envolvida nos últimos 30 anos. Navegue para saber mais:

Chile até 2030
Construindo uma plataforma colaborativa para fomentar a coesão e a construção de um mapa do caminho para o país.

Wahbung:
Nossos Amanhãs
Criando uma vida melhor para as Primeiras Nações de Manitoba, no Canadá.

Méxicos Possíveis
Combatendo a ilegalidade, a desigualdade e a insegurança com espaços e diálogos plurais.

Cenários Tailândia
Nós adaptamos, Nós Forçamos e Nós Colaboramos – o futuro depende de como agimos.

Alerta Democrática
Construindo estratégias colaborativas para pensar sobre o futuro das democracias na América Latina.

Cenários da Sociedade Civil Brasileira
Criando cenários transformadores para inspirar, desafiar e incentivar o futuro da Sociedade Civil Brasileira.

Cenários Dinokeng
Criando um espaço e uma linguagem para conversas estratégicas abertas, reflexivas e fundamentadas entre os sul-africanos.

Destino Colômbia
Contribuindo para o pensamento nacional e internacional sobre o futuro da Colômbia.

Cenários Mont Fleur
Usando os cenários para realizar uma transição bem-sucedida para a democracia na África do Sul.
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Promovendo a Reflexão e Apoiando a Mudança
Ao longo dos anos, nossa equipe de profissionais experientes desenvolveu uma ampla gama de conteúdos sobre paz e democracia, incluindo artigos, estudos, livros e webinars. Aqui você encontrará uma compilação deste trabalho. Convidamos você a explorá-lo e esperamos que sejam ferramentas úteis para promover a reflexão e apoiar a transformação.
Em 2016, Santos recebeu o Prêmio Nobel da Paz por “seus esforços resolutos para colocar um fim à guerra civil do país que durou mais de 50 anos”. Adam e Santos trabalharam juntos em 1995, nas profundezas desta guerra, no projeto multissetorial Destino Colômbia, para imaginar possíveis futuros para o país, e novamente em 2012, em um projeto hemisférico para encontrar soluções para o problema das drogas nas Américas.
No último complemento ao Berghof Handbook for Conflict Transformation, o artigo de Mille Bojer aborda a questão “qual é o papel que as ‘histórias do futuro’ podem desempenhar na transformação de conflitos no presente?”. À luz de sua experiência de décadas como organizadora e facilitadora de processos de diálogo social e cenários transformadores em várias partes do mundo, ela se baseia em trabalhos nas Américas, Brasil, Colômbia e África do Sul, em questões que vão desde políticas de drogas, reforma agrária, até processos de paz no pós-guerra, para apresentar uma abordagem transformadora para o planejamento de cenários e diálogo entre diferenças. Leia o artigo.
Avançar em questões complexas e polarizadoras requer uma nova abordagem para o trabalho em conjunto. Em seu novo livro, Adam Kahane apresenta a facilitação transformadora, um processo estruturado e criativo para remover obstáculos para que possamos avançar juntos. Saiba mais.
*A tradução do livro para o português está prevista para 2023.
Até que ponto a promoção dos direitos humanos ajuda nos esforços para resolver conflitos e construir a paz? Neste estudo, a consultora associada sênior da Reos Partners, Michelle Parlevliet, argumenta que a transformação de conflitos violentos em paz sustentável requer insights e estratégias de ambos os campos de direitos humanos e de transformação de conflitos. Considerar os dois juntos melhora a análise das causas-raiz, dinâmicas e manifestações do conflito.
Leia o estudo.
Desenvolvido pelo facilitador de renome mundial e diretor da Reos Partners, Adam Kahane, este material compartilha insights e habilidades necessárias para liderar mudanças com sucesso – em sua comunidade, sua organização e no mundo. Acesse aqui.
O Espaço Propício para a Paz é uma parceria colaborativa que explora como efetivamente promover e sustentar a paz, facilitando mudanças institucionais no sistema internacional de apoio à construção da paz. Entenda mais lendo o artigo de Mille Bojer.
Conheça a explicação de Stephen Bouche sobre por que a hora da “democracia aumentada” é agora. Leia o artigo.
Neste livro inovador e oportuno, Adam Kahane fornece uma nova abordagem para a colaboração: uma que abraça a discórdia, experimentação e cocriação genuína – em vez do entendimento convencional de colaboração – que ela requer uma equipe harmoniosa, que concorda em onde está indo, como vai chegar lá, e quem precisa fazer o quê.
Michelle Parlevliet vai além da dicotomia estereotipada de “justiça vs paz” e propõe que a aplicação de uma perspectiva de direitos humanos aproxima a transformação do conflito de seus objetivos, forçando uma maior ênfase nas condições estruturais, especialmente o papel do Estado, sistemas de governança e questões de poder. Leia o artigo, parte do Berghof Handbook for Conflict Transformation.
O Planejamento de Cenários Transformadores utiliza a metodologia bem estabelecida do planejamento de cenários adaptativos – construir rigorosamente um conjunto de histórias de possíveis futuros alternativos – e a vira de cabeça para baixo. O método usa cenários não apenas para entender e se adaptar ao futuro, mas também para desafiá-lo e mudá-lo. Ele oferece uma maneira de transformarmos a nós mesmos e nossos relacionamentos uns com os outros e, assim, transformar os sistemas dos quais fazemos parte. Saiba mais sobre o livro de Adam Kahane.
Vamos avançar juntos
Como podemos lhe ajudar a progredir em seus problemas mais importantes e desafiadores? A Reos Partners adota uma abordagem customizada para cada situação. Para discutir o seu e como começar a endereçá-lo, entre em contato com um de nossos sete escritórios, listados abaixo. Estamos aguardando o seu contato.