Em 2013, durante o processo de construção dos Cenários para a Sociedade Civil no Brasil, algumas pessoas da equipe de cenários sugeriram fazer o mesmo para a educação. Mapeamos os atores envolvidos e propusemos um exercício de cenários para duas organizações chaves na área: Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Todos Pela Educação. Eles concordaram e sugeriram que incluíssemos outros quatro atores: Undime, Consed, GIFE e Ação Educativa. Esses seis representantes formaram a aliança convocadora. O patrocínio foi realizado por cinco organizações: Instituto C&A, Fundação Telefônica Vivo, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e Ação Educativa.
O sistema educacional brasileiro enfrenta muitas questões parecidas com as enfrentadas em outros países, como a escassez de recursos e oportunidades desiguais. O enorme tamanho do sistema, porém, torna-os mais complicados. De uma população de 200 milhões, 50 milhões são estudantes; existem 200.000 escolas e 2 milhões de professores no Brasil.
Muitos jovens que não encontram apoio no sistema acabam caindo no mundo das drogas e da violência. O alto índice de encarceramento entre os jovens é apenas um dos exemplos do efeito dominó causado por um sistema educacional precário em um sistema mais amplo.
Embora a educação pública tenha se tornado um direito constitucional em 1988, tornando-a praticamente universal, apenas agora a população em geral começa a ver a educação como uma prioridade. Para muitos brasileiros mais pobres, simplesmente ter acesso à educação é algo relativamente novo; somente agora a qualidade dessa educação está sendo questionada amplamente.
Refletindo essa falta de atenção à educação, critérios e salários para professores são bastante baixos comparados a outras profissões. Embora alguns escolham a profissão de professor como uma vocação, muitos a escolhem porque as exigências são bastante baixas – é uma entrada fácil ao ensino superior.
Existe um alto grau de desigualdade no sistema educacional. As populações mais afetadas são os pobres, negros e populações indígenas, os que vivem em áreas rurais ou na periferia de cidades grandes e aqueles com deficiências.
O que muitos na área veem como conquistas na educação nas últimas décadas – como direitos relacionados a questões de gênero, orientação sexual e diversidade – está sendo questionado pela atual administração conservadora no Brasil.
A equipe de cenários produziu quatro cenários para o futuro da educação no Brasil, definindo o horizonte como 2032 – o centenário do manifesto dos “pioneiros da nova educação” no Brasil. Buscando neutralidade, a equipe nomeou os quatro cenários se referindo a pássaros. Cada um explora seis temas:
Os cenários foram lançados em agosto de 2015, com lançamentos adicionais planejados em cada uma das regiões do país.
Devido aos profundos antagonismos existentes entre as diferentes partes, já foi uma conquista conseguir convocar e completar esse processo – mas ele obteve progresso real na forma da construção de um relacionamento entre públicos chave.
Muitos dos atores antagônicos haviam se encontrado anteriormente – nos casos em que sequer se conheciam – apenas em fóruns de debate. O processo de cenários permitiu e estimulou um diálogo real, com pessoas sentando ao redor da mesma mesa, realizando caminhadas em duplas, propondo ideias em painéis e trabalhando juntos com peças de Lego. As novas relações que surgiram servem de base para enfrentar os desafios à frente.
Um dos membros da equipe de cenário disse, “Criamos parcerias e amizades, relacionamentos. Foi um processo de aprendizado profundo. A experiência que tivemos juntos, um grupo com diversos atores, foi muito rica.”