Apesar de 40 anos de “guerra contra as drogas” nas Américas, o consumo delas continua aumentando, o tráfico permanece forte e a violência apenas mudou de um país para outro. Em 2012, a Organização dos Estados Americanos (OEA) adotou uma nova abordagem: o processo de Cenários Transformadores. A extraordinária evolução pública das políticas sobre drogas que aconteceu desde então no hemisfério é uma prova do poder dessa metodologia.
Para começar o processo, nós e nossos parceiros conduzimos entrevistas de diálogo com 75 líderes do hemisfério. Convidamos então 46 pessoas excepcionais envolvidas com segurança, negócios, saúde, educação, culturas indígenas, organizações internacionais, o sistema de justiça, a sociedade civil e política para formar uma equipe de cenários. A equipe produziu quatro cenários que representam diferentes maneiras de ver o problema das drogas e que também descrevem como ele pode vir a ser em 2025, dependendo das ações da OEA. Nas palavras do presidente colombiano Juan Manuel Santos, os cenários oferecem “opções realistas, sem preconceitos ou dogmas”.
Lançado em 2013, o relatório da OEA foi aclamado por líderes, think tanks e a imprensa internacional como um grande avanço. Nos meses que se seguiram, membros da Assembleia Geral da OEA discutiram os cenários com formuladores de políticas e públicos de interesse em todo o mundo sobre a questão das drogas. O então Secretário-Geral da OEA, José Miguel Insulza, descreveu o impacto como “enorme” e disse que “o relatório permitiu o começo de uma discussão franca e sem precedentes”.
Em setembro de 2014, a OEA realizou uma assembleia especial que chegou a novos acordos sobre as políticas sobre drogas no hemisfério. Foi mais um momento sem precedentes.
A iminente Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre Drogas promete novos avanços importantes. A Ministra das Relações Exteriores colombiana María Ángela Holguín disse, “temos uma nova perspectiva de cooperação, que deve levar a um consenso global em 2016.”
Em 2012, em uma reunião privada de líderes durante Cúpula das Américas, o presidente colombiano Juan Manuel Santos falou sobre sua preocupação de que “guerra às drogas” não estava sendo vencida. Santos já havia trabalhado com a Reos em um projeto sobre o futuro da Colômbia. Ele também tinha familiaridade com o trabalho de nosso parceiro, o Centro de Liderança e Gestão (CLG), localizado em Bogotá. A seu pedido, a OEA envolveu a Reos e o CLG para liderarem um processo de cenários.
A guerra contra as drogas, travada a enormes custos pela Colômbia e outros países do hemisfério nos últimos 40 anos, não está sendo vencida de acordo com a maioria dos indicadores. Apesar do progresso em algumas áreas, o problema das drogas, no melhor dos casos, continua o mesmo – com grandes taxas usuários viciados, encarceramento e violência. Como colocou o presidente colombiano Juan Manuel Santos, “às vezes sentimos que estamos pedalando em uma bicicleta ergométrica. Olhamos para a direita e para a esquerda e ainda vemos a mesma paisagem.”
A tarefa da equipe de cenários era construir cenários claros e plausíveis do que poderia acontecer no futuro com relação às políticas sobre drogas, com base em tendências atuais e dinâmicas políticas, econômicas, sociais, culturais e internacionais relevantes. Esses cenários não são previsões do que de fato ocorreria nem recomendações do que deveria acontecer. Na verdade, o objetivo era criar maneiras radicalmente diferentes de entender e responder ao problema das drogas. Isso tudo dentro de um contexto em que alternativas às políticas proibicionistas já haviam sido praticamente banidas das discussões oficiais há muito tempo.
O relatório dos cenários ofereceu uma contribuição importante e com credibilidade para abrir e reestruturar importantes debates estratégicas. Ele ofereceu uma base para a reunião anual dos ministros de relações exteriores da Assembleia Geral da OEA sobre a política sobre drogas em junho de 2013. Agora, em todo o continente americano e além dele, novas políticas e leis sobre drogas estão sendo vigorosamente debatidas e implementadas em todos os níveis – municipais, provinciais, nacionais e regionais. Em 2016, a Assembleia Geral das Nações Unidas realizará uma sessão especial sobre políticas sobre drogas e agora existe um potencial sem precedentes para a formação de consenso.
O relatório de cenários foi amplamente reconhecido como uma contribuição potencialmente revolucionária a um debate antes paralisado. Entre os think tanks e as instituições que expressaram essa opinião estavam o Royal Institute of International Affairs, a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, o Council on Foreign Relations, a Brookings Institution e a Drug Policy Alliance.
Por todas o continente americano e na Europa, jornais, canais de televisão e estações de rádio e blogueiros realizaram uma cobertura ampla e favorável do relatório. O documento foi manchete do The Guardian: “Líderes ocidentais estudam relatório ‘revolucionário’ sobre o comércio internacional de drogas.” “O relatório é tanto útil quanto inovador”, escreveu o Financial Times.