São Paulo é a maior cidade no hemisfério sul, com cerca de 20 milhões de pessoas vivendo em sua região metropolitana. É uma cidade próspera, energética, populosa, poluída, congestionada, industrial e extensa com poucas áreas verdes, rodeada por terras de alta produção agrícola e o que restou da Mata Atlântica.
A questão de como desenvolver relações mais sustentáveis entre a agricultura e a cidade é uma questão que desperta o interesse de muitos investidores em São Paulo. Vivendo em uma cidade que enriqueceu em razão de plantações de café e açúcar, uma cidade que vivenciou uma rápida migração de pessoas vindas de áreas rurais e uma cidade localizada na região mais próspera do Brasil, os paulistanos têm historicamente uma conexão cultural significativa com o interior. Porém, o dia a dia em uma megalópole é em geral profundamente desconectado da natureza e de processos ecológicos.
Como criamos uma relação mais intima entre produtores e consumidores, entre pessoas e natureza, entre a cidade e o ecossistema em que ela existe? Como promovemos processos metabólicos mais sustentáveis para São Paulo, considerando como e onde nossos alimentos são produzidos, como são distribuídos e como são ou não desperdiçados? Podemos contribuir ao localizar redes de abastecimento? Como valorizamos, reconhecemos, fortalecemos e capacitamos produtores locais? Podemos contribuir construindo sistemas de ciclo fechado nos quais o que é desperdiçado em um processo alimenta o outro? Qual a possibilidade de construir fazendas e jardins multifuncionais, que além de atenderem a demandas materiais por alimentos e energia, também atendem a demandas imateriais por saúde, educação, ecoturismo, conservação e conexão com a natureza e com outras pessoas?
Como podemos pensar de forma mais sistemática, inovadora e inteligente sobre a relação entre São Paulo e a agricultura da qual a cidade depende e com a qual está intimamente conectada de diversas maneiras?
Essas são algumas das questões centrais abordadas pela equipe de Agricultura Metropolitana em São Paulo. O projeto em São Paulo foi lançado em um workshop inaugural em novembro de 2009. Entre setembro e dezembro, 20 representantes de púbicos de interesse participaram de extensas entrevistas de diálogo, cujos resultados foram resumidos em um relatório. Em 2010, a plataforma online local (http://metroagsp.ning.com) foi criada e uma série de 5 workshops locais foi realizada, incluindo um “laboratório de inovação” de 3 dias para aproximadamente 20 participantes de diferentes setores, focado em como conectar produtores e consumidores.
Após o laboratório de inovação, os participantes começaram a trabalhar em 3 projetos em particular:
– Um projeto que permite que produtores locais ofereçam produtos orgânicos diretamente a escolas, parte da lei recentemente regulamentada exigindo que 30% das compras para a merenda escolar venham de pequenos agricultores. O projeto busca otimizar essa relação de uma maneira benéfica tanto para escolas quanto para produtores.
– Um projeto sobre novos modelos/tecnologias sociais para a comercialização de produtos orgânicos e agroecológicos em larga escala, ligado a um processo de educação do consumidor. Esse projeto tem base em 11 anos de experiência de uma empresa chamada “Sabor Natural”.
– Um projeto para promover “centros de referência” para segurança alimentar e agricultura urbana e periférica.
Outras ideias que surgiram no Laboratório de Inovação incluem: cooperativas de consumidores, certificação participativa, conscientização sobre sazonalidade e incorporar a questão em oportunidades de negócio, sistemas para compostagem de lixo orgânico da cidade, inclusão de temas relacionados a agricultura nas escolas públicas, melhorar a assistência técnica e a capacitação de produtores, desenvolvimento de uma certificação para “sustentabilidade”, parcerias com restaurantes para criar pratos gourmet saudáveis feitos com produtos locais, entre outros.
Discussões também estão em desenvolvimento sobre como institucionalizar princípios da Agricultura Metropolitana a nível estadual.
Os participantes estão ansiosos para fazer parte da conferência internacional ao final de setembro e para continuar o trabalho localmente, deixando uma marca visível na metrópole de São Paulo e seus arredores.